CAPÍTULO 8"Aquele 1% é do Pedro"
Minha vida parecia quase como um conto de fadas desde o dia em que eu e o Beto oficializamos nossa relação. Todo dia acordava sorrindo e bem disposta, tomava o café da manhã de Margarida com muita satisfação como se fosse o último, encontrava com a Helô no ponto de ônibus para irmos à faculdade juntas, estudava e estudava (Afinal, vida acadêmica não é moleza não :v), e no fim do dia, íamos ao estúdio onde os Bellos estavam para vê-los ensaiar. Quase sempre, depois dos ensaios, o Beto me puxava para a casa dele, onde rolavam vários amassos, beijos e até... quase aquilo lá, mas sempre acabava não cedendo por completo haushsuahua.
Porém, como disse inicialmente: minha vida parecia QUASE um conto de fadas... Se não fosse o Pedro. Na maior parte do dia, uns 80% dele acredito, pensava no Beto e isso me dava a certeza que o amava, uns 19% eram ocupados pelas demais coisas do dia-a-dia, no entanto, aquele 1%... Era o Pedro. Não entendia bem, mas sentia um aperto no peito toda vez que olhava para ele nos ensaios. Distante... Era tudo o que seu rosto transparecia. Ele era o último a chegar nos ensaios e o primeiro a ir embora. Entre os intervalos, já tentei puxar uns assuntos com ele, sacomé aqueles papos furados de sempre, só pra começar a conversa mesmo, mas quem disse que ele correspondeu? Soava até como se eu falasse com um simulador de conversa, porque todas as respostas dele eram secas e previsíveis. Ele parecia ainda normal com os Bellos e a Helô, mas comigo era diferente: ele era curto e frio. Tudo parecia mil maravilhas e cada vez mais eu e o Beto nos fortalecíamos, entretanto, ainda assim havia um vulto em meio a todo esse sonho. Como se uma peça estivesse fora do lugar. Queria ter o poder de ignorar esse vulto e focar meus olhos nos bons acontecimentos, mas simplesmente não dá! Não dá pra ignorar essa peça quando ela é seu próprio amigo!
No fim de semana, estive na casa do Theus. Estávamos eu, a Helô, o Igor e o próprio Theus lá jogando UNO.
-Desculpa aí, Helô, mas não tive outra escolha... Compra quatro!
-Ora Thomate cru!! Vai ter volta!
-Meça suas vingança, Helefanta!
Eu e o Igor demos risada dos dois e eles continuaram trocando farpas entre si. A campainha tocou e fui ver quem era.
-É entrega de pizza.
Sabia muito bem de quem era aquela voz. “Pizza? Inventa uma melhor, Beto!” pensei comigo. Abri a porta e fui surpreendida com um beijo. Não resisti àquela boquinha e me entreguei. Ficamos ali na porta na maior pegação até que o ar se fez necessário.
-Doido! Imagina se não sou eu quem te atenderia!
-Se não me engano o Matheus e a Helô estão muito concentrados no jogo para atender uma porta, então quem mais...
-E o Igor hein?
-Ah o Igor é o Igor!
E demos um selinho rápido, voltando em seguida para a sala.
-Lá vem o casal do ano de novo! Aqui é uma casa de família, então se comportem! (Matheus falou em tom de sarro)
-Acho que o casal que tem que se comportar aqui é tu e a Helô, porque os dois juntos é só bagunça! (Beto zuou também e todo mundo riu, embora o Theus e a Helô parecessem pimentões de tão vermelhos)
Essa questão também me dividia de certa maneira, porque gostava de ver que a Helô e o Theus estavam cada vez mais próximos, digo, amorosamente falando. Já peguei os dois trocando alguns carinhos e tals, nada muito sério, mas era fofo de ver. Porém, a Helô estar gostando mais do Matheus, faz o Pedro ficar cada vez mais apagado da nossa visão em geral. Era como se todos nós estivéssemos esquecendo ele de alguma forma, tanto que foi o Igor naquele momento de descontração que nos lembrou disto.
-Só faltava o Peh aqui... (Igor disse em meio a um riso, mas também em um tom melancólico)
Todos nós ficamos na mesma. Meio tristes, meio felizes. Embora ainda conversasse normalmente com o pessoal (exceto eu, a diferentona da história), todo mundo ali havia notado que ele andava sumido. O Theus o convidara para jogar UNO e curtir um pouco com a gente o fim de semana, porém, ele simplesmente recusou dizendo que havia assuntos a tratar. Mesmo com esse momento de tristeza e reflexão a noite seguiu tranquila (ou não).
Quando fomos embora, fui para a casa do Beto e fiquei com ele na cama. Ele parecia querer me engolir de tanto que me beijava e também chupava meu pescoço. Começou a apertar minhas coxas e depois desabotoar minha calça. Não queria perder para ele e então puxei sua camisa até tirá-la, passando minhas mãos em seguida por seu peito e barriga. Ele sorriu maliciosamente para mim, se sentindo desafiado, retirou minha calça bruscamente e a jogou no chão do quarto.
Chegou enfim o dia em que nossos corpos se colidiriam como em épocas passadas? Seria um reencontro sexual? Poderia até ser... Se não tivesse alguém batendo na porta como se quisesse a quebrar. Beto ficou um pouco irritado com aquilo e tratou de botar a camisa de volta e ver quem era o indivíduo. Fiquei na cama com o lençol cobrindo minhas pernas. Ouvi a porta ser aberta e a voz que ecoou dela me arrepiou até a ponta dos fios do cabelo.
-Oi Roberto.
-Oi Pedro, o que o traz aqui?
-A Anne está aí não é?
-Sim, mas agora estamos ocupados, depois vocês se veem no ensaio, sei lá...
-Então posso apenas vê-la?
Isso me assustou. Apenas me ver? Por que ele queria apenas me ver? Pra quê? Conseguia perceber um pouco de ansiedade na voz dele, estava nervoso pelo jeito...
-Não, quero dizer, agora não, sabe? É bem tarde e você chega aqui do nada sem nem avisar, cara.
-Ah é... Desculpa...
Beto estava irritado já, não sabia o que fazer naquela situação.
-E aí? Vai ficar aí parado na porta mesmo? Porque infelizmente vou ter que fechar.
Pedro soou como se acordasse de um transe e enfim se despediu de cabeça baixa. Logo ouvi a porta se fechar e os passos do Beto se aproximarem até a cama. Ele pegou nas minhas coxas, mordendo o lábio superior em uma expressão sensual, porém, sinceramente... Eu não estava nem um pouco afim depois daquela situação toda! Ele percebeu rapidamente e sua expressão fechou também. Ficamos alguns segundos sem falar absolutamente nada, até que ele se voltou para mim com um leve sorriso.
-Vem cá, Anne, vamos dormir...
E me puxou junto dele na cama. Deitei minha cabeça em seu peitoral e fechei meus olhos. Não dormi de imediato. Fiquei pensando no acontecido. O que será que o Pedro queria falar comigo? Por que ele sairia de onde ele estava para vir até a casa do Beto com o intuito de somente falar comigo? Isso é loucura! Será que ele anda usando alguma espécie nova de narcótico, alucinógeno, erva, sei lá o quê? Mdss Anne sua loka! Não vai achar que o Pedro tá começando a usar droga por causa do seu namoro com o Beto! Longe disso! Não pode ser isso. Conheço ele muito bem, nós fomos amigos!
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