6° CAPÍTULO

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Capítulo VI

“Os verdadeiros eu sei quem são”


Pensei que conseguiria dormir serenamente depois do dia perfeito que tive, mas comecei a sentir algo estranho. Acordei em um pulo, como se tivesse acabado de ter um pesadelo. Olhei meu celular, dez e meia da noite. Não costumo acordar assim, algo não está certo.
-Mas ela morreu agora?
O QUE? COMO ASSIM? QUEM MORREU? Fiquei com essas dúvidas até me lembrar da avó da Helô. Meu Deus, a Helô deve estar arrasada. Não cheguei a conhecer tão bem a avó da Helô, só conversei com ela duas vezes: no enterro da mamãe, e no aniversário de quinze anos da Helô, mas chorei mesmo assim. Minha amiga deve estar muito mal. Pensei em ir falar com papai, mas na mesma hora ele entrou no quarto.
-Oi filha, acho que me ouviu minha conversa, não é mesmo?
-A Helô deve estar super mal.
Papai se sentou ao meu lado na cama e me abraçou. Senti que ele estava tão arrasado quanto eu.
-Eu sei que não estar sendo fácil pra ti estar tão longe da Anna Heloísa em um momento desses, por isso eu quero saber se tu quer que eu te leve até o funeral.
-Sério papai?
-A Anna Heloísa esteve ao teu lado o tempo todo quando tua mãe morreu, agora é tua vez de estar ao lado dela.
-Obrigada papai, vou me trocar rapidinho.
-Pode chamar os guris se quiser. Coloque roupas de frio, Helena disse que desde que chegou lá, tá tendo que aguentar uma friaca danada.
Resolvi ir toda de preto. Escolhi um vestido preto sem mangas, a parte de cima era justa, mas a saia era rodada. Coloquei um blazer azul, o azul era tão escuro que também parecia preto. Achei o vestido um pouco curto, então coloquei uma meia calça e resolvi ir de coturno já que não achava um par de tênis. Peguei minha mochila e coloquei algumas roupas dentro, afinal, nunca se sabe. Peguei meu celular e fiz um grupo no whats com os lindos que eu amo.
-MENSAGENS ON-
Eu- Guris, a avó da Helô acabou de falecer e eu vou pra sampa com o meu pai pra tentar ajudar a Helô de alguma forma. Me desejem sorte.
Beto amor- Nossa, coitada da Helô. Posso ir com vocês?
Thomate- Posso ir também? Não quero ver a Helô triste
Descrição: 😞
Pandigor- Não é mais fácil que alguém peça pra todos irem? Vamos concordar que todos querem ir pra dar total apoio a Helô.
Pelícia- Seu pai pode nos levar Anne linda?
Eu- Ele falou que eu poderia chamar vocês, então se quiserem se trocar é melhor fazerem isso logo.
Thomate- Helô sabe que nós vamos?
Eu- Achei melhor chegar de surpresa, talvez isso a anime um pouco.
Pandigor- Bora todo mundo largar o celular e ir se preparar, eu sei como o tio Eduardo detesta atrasos.
Eu- Recado importante: segundo a tia Helena, lá tá fazendo uma friaca do cacete.
-MENSAGENS OFF-
Deixei minha cama do jeito que estava e fui pra sala atrás do papai. Encontrei ele na sala respondendo alguma mensagem no celular.
-Os guris também vão?
-Sim, disse a eles pra agilizarem o que estiverem fazendo, e eles sabem que o senhor detesta atrasos.
-Que bom que disse isso a eles, pois partiremos em vinte minutos.
Fui ao armarinho do banheiro e peguei alguns remédios pra enjoo, depois peguei pasta de dente no outro armarinho. Depois fui à cozinha e peguei alguns pedaços de bolo de cenoura e algumas frutas, afinal, não sabia quanto tempo levaria até encontrar algum restaurante ou alguma lanchonete no caminho. Procurei algum isopor pequeno pra levar água. Resolvi pegar algumas cobertas e travesseiros também, achei isso necessário de alguma forma.

-Tu parece mesmo com a tua mãe, ela saía pela casa pegando tudo que achasse necessário.
-Eu sinto que ainda falta alguma coisa...
-Eu acho que pegou tudo que vamos precisar.
-Tem certeza?
-Tenho, agora vamos logo.
Papai trancou casa e tirou o carro da garagem. Os guris resolveram esperar na casa do Beto então foi mais fácil. Igor foi na frente com o papai, Beto e eu fomos abraçados, então teve espaço pro Pedro e o Theus.
-A tia Helena sabe que nós vamos?
-Ela sabe, mas disse que a Helô estava dormindo, então não contou a ela que nós vamos.
-Vocês já são amigas desde crianças?(Igor finalmente disse alguma coisa, isso é milagre)
-Conheci a Helô no dia do enterro da mamãe. Estávamos com cinco anos na época. Ainda não conhecia a Helô... bom, não tanto, conhecia apenas de vista. E enquanto estávamos no velório, ela se sentou perto de mim e segurou minha mão dizendo que ela não sairia de perto de mim. E durante o enterro, ela continuou segurando minha mão dizendo que ia ficar tudo bem. Depois disso começamos a ser amigas bem grudadas.
-E bota grudadas nisso (Pedro entrou na conversa) nunca vi essas duas sem se falar, ou de mal com a outra, ou separada da outra.
-Que lindo, já eram amiguinhas desde cedo. (Beto disse isso e me abraçou ainda mais)
Não sei bem que horas adormecemos, mas quando acordei já era de manhã. Todos ainda dormiam. Beto estava encostado em um travesseiro, e eu estava com a cabeça apoiada no peitoral do Beto (detalhe: dividimos a mesma coberta... tá, grande bosta, mas significa algo pra mim). Pedro dormiu com a cabeça apoiada no meu colo. Theus parecia uma criança na porta malas do carro, estava muito fofo todo enrolado na coberta. Igor deitou um pouco o banco do carona, e dormia tranquilo.
-Sempre acordando cedo... essa é minha filha!
-Que horas são?
-Acho que umas sete e meia.
-Já chegamos?
-Em Sampa, sim. Vamos a alguma lanchonete e depois vamos pra casa da tia da Anna Heloísa.
-Não está com sono?
-Não. De qualquer forma, dormiremos aqui hoje e voltamos amanhã.
-Acordamos eles, ou deixamos dormir?
-Hora de acordar, meu GPS tá mostrando que tem uma lanchonete bem pertinho.
Acordei os lindos com delicadeza, depois de todos finalmente estarem acordados, chegamos em uma lanchonete. Depois de todos terem comido algo, e penteado o cabelo, continuamos nosso caminho. A casa da tia da Helô não era tão longe assim, em poucos minutos já havíamos chegado. Tia Helena estava nos esperando no lado de fora. Nunca a vi tão pra baixo, me deu muita pena.
-Obrigada mais uma vez por terem vindo, não fazem ideia de como estou grata.
-Meus sentimentos, Helena, vocês nos ajudaram muito quando minha querida esposa morreu, nós não poderíamos deixar de vir aqui.
Tia Helena abraçou cada um e nos disse para ir até o quarto onde a Helô estava. Quando entrei no quarto, vi Helô sentada no chão da sacada. Olhava para frente sem mover qualquer músculo. Sem avisar, me abaixei e dei um abraço bem apertado nela.
-Só quero que saiba que não está sozinha. Pode desabafar quando quiser, eu não vou sair de perto de ti.
Helô se levantou e me deu um abraço bem forte também. Ela chorou por um tempo, e então parou. Olhou pra mim e então olhou para os Bellos.
-Obrigada por estarem comigo, não quero nem imaginar como seria minha vida sem vocês.
-Não te abandonaremos nunca, Helefanta. (Theus deu um abraço longo e apertado na Helô) Meus sentimentos.
-Obrigada Thomate.
Pedro deu um “leve empurrãozinho” no Theus. Me lembrou o Beto quando nos encontramos no camarim. Theus não gostou muito, olhou para o Pedro de modo que, se o olhar dele pudesse jogar facas, Pedro já estaria morto.
-Meus sentimentos, Helôlinda!
-Obrigada, Pelindo!
Helôlinda? Que? Como assim produção? Fiquei feliz vendo como a Helô ficou bem melhor quando o Pedro a chamou assim, mas ao mesmo, não gostei dele ter chamado a Helô assim. Beto e Igor também deram um abraço apertado na Helô, e após todos cumprimentarem essa linda, nos sentamos na cama: Helô se encostou à cabeceira, Theus se sentou ao lado dela e Pedro se sentou perto também, mas no outro lado da cama. Igor sentou aos pés da cama, e Beto sentou de frente pro Pedro e eu me sentei entre as pernas do Beto.
-Onde será o velório?
-Vocês viram uma casinha modesta aqui atrás?
Todos fomos até a sacada olhar, e aí entendi, Helô olhava aquela casa.
-Vó Nina sempre viveu nessa casa, e só começou a morar aqui quando a saúde dela piorou. Minha mãe resolveu fazer o velório na casa que minha avó tanto gostava.
-Você já foi lá para o velório?(perguntou Igor enquanto Helô pegava a caixa de lenços que estava ao lado dela)
-Não, ainda não tive coragem de ir até lá.
-Vamos até lá agora?(perguntei, afinal, acho que se a Helô não for se despedir da avó, ela vai se arrepender pelo resto da vida)
-Vocês vêm comigo?
-Claro (respondemos juntos)
Helô segurou bem forte na minha mão, assim como eu segurei bem forte a mão dela quinze anos atrás. Chegamos à porta da tal casa e Helô parou de vez.
-Tá tudo bem Helô?
-Sim... Anne, você entra comigo?
-Claro que entro Helô, vamos.
Helô apertou minha mão novamente e fomos andando até o caixão, os guris estavam logo atrás. Parei com a Helô perto do caixão, senti que ela estava segurando algo dentro de si. Dei um beijo no rosto da minha amiga.
-Ei, eu não vou sair de perto de ti.
Helô não aguentou e começou a chorar novamente. Dessa vez ela não quis segurar as lágrimas. Senti que choraria junto, então senti alguém segurando minha cintura. Olhei para trás e vi um Beto com um sorriso no rosto. Ele me deu um beijo na testa e voltou a ficar sério novamente. Olhei para o Pedro e vi ele nos olhando com uma cara nada boa, mas conseguiu disfarçar quando percebeu que eu estava olhando. Helô me abraçou novamente e fomos nos sentar em um sofá ali perto. Após horas, finalmente chegou a hora do enterro.
-Helô, tem certeza que está bem o suficiente pra ir ao enterro? Nós ficamos aqui se quiser.
-Não Anne, eu quero ir. Eu tenho o apoio de vocês, isso basta.
-Awn sua linda, assim meu coraçãozinho não aguenta.
Papai e tia Helena se sentaram com a gente.
-Anne, depois do enterro eu não venho pra cá. Vou dormir em um hotel e busco vocês amanhã.
-Dorme aqui também papai.
-Filha, a Helena ainda vai ver como dar pousada a tanta gente. É melhor que eu durma em hotel, é menos trabalho.
-Tudo bem então.
-Anna Heloísa, quer voltar conosco amanhã?
-Eu posso mamãe?(Helô finalmente deu um sorriso)
-Pode sim filha, eu vou aqui mais um tempo resolvendo alguns assuntos da sua avó. Filha, tem certeza que está bem o suficiente pra ir ao enterro?
-Sim, eu estou bem.
-Helena, a Anne e os guris também vão. Se a Anna Heloísa se sentir mal, eles podem voltar com ela.
-Tem razão... então vamos.
Papai foi junto com a Tia Helena na frente. Beto e eu fomos de mãos dadas. Helô estava de braços dados comigo, até o Theus dizer algo ela, então ela foi abraçada com ele. Achei aquela cena tão fofa. Igor e Pedro surgiram, acho que conseguiram se perder. Igor foi ao lado do Beto, e o Pedro ficou ao meu lado. Nossas mãos roçaram algumas vezes, senti que o Pedro tentava segurar a minha mão, então coloquei dentro do bolso do blazer. Quando chegamos ao cemitério, notei que a Helô me olhava a cada cinco segundos.
-Beto, eu vou ficar junto da minha melhor amiga. Fica comigo, ok?
-Estarei com você mesmo que não seja a sua vontade.
Fui pra perto da Helô e segurei novamente a mão dela. E de repente, é como se tudo tivesse voltado no tempo, parecia que eu estava revivendo o dia em que a minha mãe se foi.
-FLASH BACK ON-
Papai já não segurava mais a minha mão. Ele estava carregando o caixão com mais três amigos dele que eu não conhecia. Eu estava perto de uma amiga da mamãe. O padre dizia algumas palavras que eu não sabia o que significavam, e então, começaram a abaixar o caixão dentro da cova. Mamãe seria enterrada ao lado do irmão que eu não cheguei a conhecer, infelizmente ele partiu antes mesmo de nascer. Senti as lágrimas voltando mais uma vez, e então senti que alguém segurava minha mão.
-Anne, não chora. Eu vou ficar aqui e vai ficar tudo bem.
-Jura de mindinho?
-Juro de mindinho.
Aos poucos eles desceram o caixão, e então começaram a jogar a terra por cima do caixão. Helô segurava a minha mão enquanto eu tentava ser a guria forte que mamãe me ensinou ser.
-Anne, quer ser minha amiga?
-Ainda não somos amigas?
-Acho que não, eu ainda não tinha te perguntado se você queria ser minha amiga.
-Quero ser sua amiga!
-Amigas pra todo sempre?
-Amigas pra todo sempre!
Depois desse dia papai e eu nos mudamos pra Volta Redonda. Não me lembro ao certo quando, mas não demorou até a Margarida aparecer na minha vida. Desde esse dia que Helô e eu não nos separamos mais.
-FLASH BACK OFF-
-Helô, vai ficar tudo bem.
Helô olhou pra mim com um sorriso.
-Jura de mindinho?
-Juro de mindinho!
Dei um super, hiper, mega abraço na minha amiga. Após o enterro voltamos para a casa da tia da Helô. Todos tomaram banho e então pedimos pizza. Nos reunimos na sala pra assistir alguns filmes.
-Crianças, eu vou sair e não quero saber de reclamações dos vizinhos.
-Relaxa tia Helena, (disse Theus se sentando ao lado da Helô) como o mais responsável do grupo, eu não vou deixar esses bagunceiros quebrarem a casa.
-Você é responsável e sou asiático (Primeira vez que ouço a voz do Pedro depois do enterro)
-Certo, se comportem.
Tia Helena saiu e nós começamos a assistir “Marley e eu”. Depois de lancharmos, começamos a fazer maratona de filmes alegres que tirassem a bad que “Marley e eu” deixou. Não sei que horas os outros dormiram, mas eu apaguei de vez.
Enquanto isso (não é no lustre do castelo)...
Em uma lanchonete bem da casa de sua irmã mais velha. Helena já esperava há algum tempo. Sabia que ele não estava atrasado, ela que nunca perde o costume de chegar mais cedo. As 19h40min o amigo chegara. “Sempre pontual, não muda nunca”, pensara isso assim que o pai de Anne se sentara com ela.
-Tem certeza que aqui é seguro?
-Tenho certeza Eduardo, pode ficar tranquilo.
-Meus sentimentos, Helena, sei o quanto deve estar sofrendo.
-Obrigada Eduardo, mas não precisa dizer isso toda hora.
A garçonete chegou com o menu. Pediram, e assim que a garçonete saiu, voltaram ao mesmo assunto.
-Eu conversei com o Dr. Augusto Barbosa.
-E então? Alguma novidade?
-Ele me disse que o juiz voltou a analisar o caso dela.
-Voltou?
-Sim. Ele achou estranho a falta de provas e resolveu analisar o caso dela novamente.
-Então... isso quer dizer que...
-Sim Eduardo, ela vai voltar.

Dica Bellavilhosa: Bellamore - Essa pessoa.
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