Capítulo V
“Baixei a guarda”
Não dormi direito essa noite, fiquei pensando no que o Pedro me disse. Estava muito confusa com o meus sentimentos em relação ao Beto. Mas estou feliz com o volta do papai e a aprovação na faculdade de medicina. Poderei ajudar outras pessoas assim como o papai faz e poderei deixá-lo mais orgulhoso. Papai disse que dia passar o dia todo fora, pois resolveria alguns assuntos do hospital e aproveitaria para resolver os assuntos finais da minha faculdade. Olhei meu celular e vi que eram nove horas da manhã. Arrumei meu quarto e fui tomar café. Papai havia deixado um bilhete na geladeira ~~Filha, não vou almoçar em casa hoje, pois tenho muitos assuntos que resolver. Pode pedir algum lanche se quiser, caso faça almoço, pode deixar a louça por minha conta e se quiser sair, esteja em casa até as oito. Papai te ama
-LIGAÇÃO ON-
-Oi rapariga sem bunda!
-Oi rapariga sem peito!
-Como estão as coisas Helô?
-Ai Anne, melhorou um pouquinho, mas não tanto quanto esperávamos.
-Tenha fé minha linda, tudo vai melhorar.
-Obrigada Anne, vou ter fé sim. Finalmente te contaram da universidade?
-Sim, o papai contou ontem. E quando tu chegar, ele vai nos levar em um super parque!
-Manda um abraço pro tio e diz que estamos com saudade.
-Mando sim, e dê um super beijo em todos aí, também estou com saudades.
-Agora eu preciso desligar, até logo Anne!
-Tudo vai dar certo, até logo Helô. Beijos.
-Beijos.
-LIGAÇÃO OFF-
-Senhorita, nós já chegamos.
-Obrigada, quanto deu?
-Cinquenta reais.
-Ok, mais dez de gorjeta porque o senhor é muito educado.
-Obrigado, e tenha um bom dia senhorita.
-O senhor também.
Que se foda se o Pedro não estiver acordado, ele vai me explicar aquele assunto de ontem direitinho, ele queira ou não queira. Sabia onde o Pedro guardava a chave extra, já fui entrando e gritando o nome dele feito louca, aposto que os vizinhos dele vão pensar que estamos transando. Cheguei ao quarto dele, e lá estava o bonito dormindo igual uma criança.
-Pedro? Pedrooooo? Acorda!
Balancei o braço dele e nada. Estava quase desistindo, mas prometi a mim mesma que não sairia de lá sem uma resposta.
-Pedro? Pedrooooo? PEDRO ACORDA!
Peguei o travesseiro dele e comecei a extravasar ali toda a raiva que eu estava sentindo naquele momento.
-ACORDA LOGO PESTE!
Pedro finalmente resolveu acordar, mas continuei batendo nele do mesmo jeito.
-EH CARALHO, JÁ ACORDEI! PARA SUA LOUCA, EU JÁ ACORDEI!
Finalmente parei e comecei a normalizar a minha respiração. Nossa, não imaginava que acordar alguém fosse tão cansativo. Pedro se sentou e se recostou na cabeceira da cama. Apesar de estar brava, não deixei de reparar na linda visão que é o Pedro sem camisa.
-O que quer afinal? Mais importante, como entrou aqui?
-Eu sei onde tu guarda a chave extra. E agora tu vai me explicar direitinho aquela parada de ontem.
-Que parada?
-Essa do Beto ser assim...
-Ata... o que tenho pra explicar?
-Tudo. O Beto não faria isso.
-Tem certeza?
-Eu confio no Beto.
-Se confia, então o que faz por aqui?
Droga, não soube o que dizer. Pedro olhou pra mim com um sorriso de satisfação. Ele se levantou e começou a vir na minha direção. Quando reparei, vi que ele estava de cueca. Ele sabia exatamente que eu estava incerta da decisão que tomei, e manteve o mesmo sorriso. Quando ele começou a ficar mais perto de mim, comecei a recuar, até que encostei na parede. Pedro encostou os braços na parede, de modo que me “prendia”, e chegou bem mais perto, até que pudéssemos sentir a respiração um do outro.
-Eu te assusto Anne Lis? (a voz dele estava um pouco rouca, mas ainda tive que me segurar para não me arrepiar)
-Não me assusta.
-Então porque tá tentando atravessar a parede? Ou melhor, se não te assusto, então porque não me olha nos olhos?
Então resolvi olhar nos olhos dele, eu não tenho medo. Quando olhei para o Pedro, senti que ele poderia ler meus pensamentos. Pedro me olhava de um modo diferente, como se eu fosse a única imagem que os olhos dele pudessem ver.
-Você tem medo Anne Lis.
-Medo de quê?
-De não estar certa sobre seus sentimentos em relação ao Beto. Medo de se entregar a mim outra vez e não querer me abandonar. Medo de me beijar... e não querer mais parar.
Pedro começou a aproximar essa boquinha linda pra bem perto da minha. Ele olhava pra minha boca, e então seus olhos se encontraram novamente com os meus.
-Se eu te beijar agora, duvido que vá conseguir me parar.
Foi tudo muito rápido. Pedro me encostou na parede e me agarrou com vontade, enquanto aquela boca linda tentava se encontrar com minha.
-Para de negar que também quer!
Empurrei o Pedro pra longe e voltei a me encostar na parede. Me sentei no chão e fiquei recostada na parede. Pedro ficou me encarando com um olhar bem triste, e então se sentou ao meu lado.
-Você é muito contraditória.
-Não sou.
-Primeiro diz que não que ver o Beto nem pintado de ouro, depois está lá quase engolindo ele.
-Não foi bem...
-Primeiro me beija e diz que eu sou diferente, e magicamente se esquece do que rolou entre a gente. Se lembra do domingo que passamos juntos? Me beijou com a mesma vontade que eu estava, suspirava no meu ouvido cada vez que minhas mãos acariciavam seu corpo. Mordia meus lábios cada vez que eu pensava em parar pra respirar. Sentiu tanto desejo quanto eu quando eu estive bem perto de fazer amor com você. Eu senti seu arrepio quando minha mão começou a puxar sua calcinha, e se não fosse o Beto, isso teria acontecido. QUER SABER? PRO INFERNO VOCÊ E ELE!
Olhei para o Pedro e ele estava chorando. Me senti pior ainda. Não quero iludir o Pedro, mas não quero que ele sofra.
-Pedro, por favor, se acalma.
-Sai daqui, me esquece!
-Não vou sair enquanto não se acalmar.
-SOME DAQUI, E DEPOIS NÃO VEM CHORAR COMIGO QUANDO O BETO TE TRANSFORMAR NO BRINQUEDINHO QUE VOCÊ É!
COMO É? Agora ele passou dos limites. Eu queria conversar, mas agora quero que ele morra. Pedro se deu conta do que disse e tentou me abraçar na mesma hora.
-Anne desculpa, não queria dizer isso.
-Agora quem não quer mais ficar aqui sou eu.
-Anne foi sem querer, não queria dizer isso...
-Mas disse. Agora não quero saber mais nada a teu respeito.
Me levantei na mesma hora e comecei a andar com mais pressa. Pedro vinha atrás tentando me convencer a parar. Perto da porta ele segurou a minha mão e me puxou pra perto dele. Essa foi a primeira vez que não liguei se alguém ia me ver chorando.
-Anne me desculpa, eu não pensei direito...
-Que se foda se pensou ou não. Me esquece e finge que eu morri.
Puxei a minha mão com violência e saí. Parei um pouco olhando a rua, sequei as lágrimas, e então segui meu caminho. Não sabia aonde ir, mas sabia que precisava andar.
-Só tá nervosinha assim porque a amiga tá viajando, né?
Sabia que conhecia essa voz, então olhei pra trás e lá estava o Theus me olhando com o mesmo sorriso de sempre.
-Sabe como é né? É difícil não ter alguém pra ouvir minhas maluquices.
-Se quiser, eu posso ser a Helô temporária.
Corri pra perto do Theus e dei um super abraço nele. Assim como a Helô, eu também era super amiga do Theus, até brincava dizendo que ele era meu irmão.
-Por quanto tempo a Helô vai viajar?
-Ela não disse, mas espero que ela volte logo.
-Eu também espero, saudades dela.
-Huuuuuuuuuum, alguém aqui tá caidinho por ela.
-Boba...porque tá com tanta pressa? Espera, estava chorando também? O que houve?
-Nada Theus, não foi nada.
-Quer almoçar lá em casa? É chato comer sozinho.
-Eu vou sim, quero ver se o chef Theus é bom mesmo.
-E você vai me contar o que aconteceu, não pensei que vai fugir disso.
Theus e eu fomos conversando o tempo todo, nem parecia que passamos tanto tempo sem nos falar. Resolvi dar uma ajuda com o almoço, e depois do almoço ajudei com a louça, e depois fomos pra sala.
-Vai me contar agora porque estava chorando, ou eu vou ter que te fazer cosquinhas?
-Eu conto, mas nada vai sair daqui, ok?
-Ok.
-Ontem o Beto e eu saímos e encontramos o Pedro. E depois quando conversei com o Pedro, ele me disse que não era a primeira vez que isso acontecia e que eu não era a única.
-Como assim?
-Eu não sei, depois ele disse que ia com o Beto pra balada.
-O que? Mas o Beto estava aqui em casa ontem à noite.
-Estava?
-Sim. Ele queria saber se faríamos outro vídeo ensinando as cifras de uma das nossas músicas, e depois conversamos o resto da noite.
-Sério?
-Sério. Olha, desde que você e o Beto terminaram que ele só pensa em você. Eu sei que é difícil acreditar nisso, afinal, ele namorou com a Vitória. Mas ele não amava essa sujeita, ele nem mesmo sabe dizer porque aceitou namorar com ela, mas ele tentava manter o relacionamento por sentir pena dela e não querer magoá-la. Todos os dias ele chegava aqui e desabafava, se perguntava como ele pôde ser tão tonto assim de ter deixado você ir. E quando vocês apareceram no camarim, o olhar dele teve um brilho que já não aparecia há anos. Depois que vocês voltaram as nossas vidas, eu só o encontro feliz e sorridente. E depois que você deu a ele uma esperança de voltarem, ele só fala em você. Olha, eu não sei ler as pessoas, mas tenho certeza que o Beto nunca brincaria com os seus sentimentos, pois ele te ama, e não é coisa pouca.
Fiquei sem palavras depois disso. Senti um sorriso surgir no meu rosto e depois senti uma lágrima descer, mas não era uma lágrima de tristeza, era de alegria.
-Ele... me ama?
-Já duvidou disso alguma vez?
Comecei a rir igual uma garotinha e não consegui me controlar. Theus riu junto comigo e acabamos quase sem fôlego de tanto rir da risada um do outro. Finalmente paramos, e então a campainha tocou. Theus foi atender, e quando voltou lá estava o. Beto? Beto tá aqui?
-Beto?
-Anne?
-Então quer dizer que já se conhecem?
Olhamos pro Theus com um olhar de “sério isso?” e ele parou de rir.
-Vocês não tem senso de humor? Eu vou pegar alguns lanches pra gente.
Theus saiu e Beto se sentou perto de mim. Ele me deu um beijo na bochecha e passou o braço ao meu redor.
-O que faz aqui?
-É bom te ver também.
-Anne, sério, o que faz aqui?
-Encontrei o Theus na rua, e ele me perguntou se eu queria almoçar aqui. Qual o problema?
-Você e o Theus sozinhos, esse é o problema.
-Beto... tá com ciúmes?
-Não... é...que...aaaaaah, sim, estou com ciúmes.
Dei um selinho no Beto e ele me olhou com um pouco de espanto.
-Eu te amo, Roberto Vicentini.
-Eu te amo Anne Lis Beltrão.
-Se for pra eu segurar vela, façam o favor de avisar de uma vez.
Theus voltou com batatinhas, pipoca, doces e refrigerante. Já que ele quis se sentar no outro sofá, deitei minha cabeça no colo do Beto.
-Theus, eu já falei muito sobre mim. Agora quero que fale também.
-Não tenho o que falar.
-E quanto a He...
-Porra Beto, cala a boca.
-Theus, tu tá afim da minha amiga?
-Eu gosto dela, e só.
-Fala a verdade Matheus, eu vi seus olhos brilharem quando ela e a Anne apareceram no camarim.
Passamos a tarde conversando e zoando o Matheus. Seis horas o Theus precisou sair, então fui com o Beto pra casa dele. Beto se jogou no sofá e me chamou pra deitar ao lado dele. Passamos um bom tempo apenas olhando um pro outro, Beto acariciava meu rosto e eu admirava aquele lindo sorriso. Então resolvi quebrar o gelo.
-Tu sentiu minha falta todos esses anos que passamos longe um do outro?
-Eu não conseguia parar de pensar em você um minuto. Eu não minto quando digo que te amo.
-Eu não estou dizendo que mente.
-Acho que fomos feitos um pro outro, Anne.
-Só acha?
-Tenho certeza.
E então nossos lábios se encontraram. Beto me beijava de um jeito doce, mas ao mesmo tempo quente. Esses lábios carnudos sabem mesmo como enlouquecer uma mulher. Senti uma mão dele na minha nuca, enquanto a outra acariciava minha cintura. Beto mordia meu pescoço enquanto suas mãos levantavam meu croped. Com a maior delicadeza, Beto tirou meu croped e continuou beijando meu pescoço. Aquelas mãos tão perfeitas desceram até o meu sutiã, e junto com as mãos, os beijos de Beto também desceram.
-Está cada dia mais bonita e sexy.
-Digo o mesmo de ti.
Beto se sentou atrás de mim e então voltou a beijar meu pescoço. Senti aquelas mãos maravilhosas acariciando meus seios por baixo do sutiã. Eu sentia a respiração ofegante do Beto, e sabia como isso ia acabar. Eu amo o Beto, mas ainda não me sinto pronta.
-Beto, para, por favor.
-Por quê?
-Eu só... não me sinto muito segura.
-Eu...entendo. Ainda não se decidiu se quer ou voltar ou não, então eu entendo se não quiser me dar essa honra de te fazer minha novamente.
-Entende mesmo?
Beto me ajudou a vestir o croped novamente, e depois que me vesti, ele me puxou pra mais perto dele e ficamos abraçados novamente.
-Eu disse que não vou te pressionar. Eu sei que se rolasse, depois você ficaria ainda mais confusa. Não quero te forçar a nada, e quando decidir que quer me dar mais uma chance, saiba que estarei te esperando de braços abertos.
Esse fim de tarde que passei com o Beto me mostrou o quanto eu o amo. Dessa vez eu dei uma chance para o amor, deixei meu escudo cair, e agora sei que tenho esse amor lindo e puro para me defender. Eram sete e quarenta quando cheguei em casa. Vi uma pessoa na minha porta e pensei que era meu pai, ou até mesmo a Helô, e quando me aproximei... e pera aí...Pedro?
-O que quer?
-Quero falar com você e me desculpar.
-Pelo poder a mim investido, eu lhe declaro perdoado. Sai daqui.
-Anne, eu tô falando sério.
Me sentei no degrau da porta da minha casa e Pedro se sentou ao meu lado.
-Eu não devia ter falado com você daquele jeito. E não devia ter inventado aquelas mentiras. Eu agi por impulso e raiva, deixei meu ciúme falar mais alto e acabei agindo como um babaca. Eu tô muito arrependido disso, e quero que me perdoe.
Apesar de tudo, senti mesmo que o Pedro estava arrependido. Droga de coração feminino, não sei ficar brava com ele.
-Nunca mais faça isso.
-Não farei.
Pedro me deu um super abraço, e ficamos conversando sobre as mesmas baboseiras de sempre.
-Eu preciso arrumar um jeito desses guris pararem de vir aqui tentar conquistar minha filha.
Me levantei e dei um abraço bem apertado no meu pai.
-Quanto tempo que não te vejo Pedro, quase não consegui te reconhecer.
-Pois é senhor Eduardo, e mesmo assim o senhor continua jovem.
-Não adianta me bajular guri, tem que fazer melhor do que isso se quiser minha permissão pra conversar com a minha filha. Mas vamos entrando.
-Eu preciso ir agora, mas obrigada pelo convite. Até logo Anne, até logo senhor Eduardo.
Pedro me deu um abraço bem forte e um beijo no canto da boca, e então foi embora. Papai e eu entramos e fomos direto pra cozinha.
-Quantos pretendentes eu ainda vou conhecer?
-O que?
-Eu vou arrumar uma espingarda pra quando algum guri resolver voltar aqui.
-Para com esse ciúme Eduardo Beltrão Soares.
-Não vou parar Anne Lis Beltrão Soares.
Após o jantar fui pro meu quarto e me joguei na minha cama. Papai disse que minhas aulas começariam semana que vem, e que me dariam meu horário no primeiro dia de aula. Comecei a pensar no Beto e em tudo que ele me disse, e então me lembrei da tarde que passamos juntos. Adormeci com cada lembrança doce que passamos juntos. Vou dar uma chance para o amor, e tentarei novamente ser feliz ao lado do homem que eu amo.
Dica Bellavilhosa: Meu Cais- Pagan John
"TODA QUARTA UM CAPÍTULO NOVO"

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