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Capítulo 10

"O melhor pra você era eu"

Um aperto frio tomava conta de meu peito, parecia que outra pessoa vivia dentro de mim e agora estava extremamente pasma, se encolhendo aos poucos em posição fetal. Escondendo seu rosto em seus joelhos e ficando cada vez branca e mais branca. Um fantasma? Nem sei direito dizer o que era aquilo, mas sei que estava dentro de mim, controlando todo o meu psicológico. Costumo chamar esse bicho de ansiedade, angustia, curiosidade, nervosismo, tudo isso aí misturado. Estranho como a gente sente tantas coisas e nem ao menos sabe o que elas são.
Isso tudo é culpa daquela mensagem do Pedro. Puto! Precisava mandar uma dessas? “Precisamos conversar” hur dur! Ah é pra ferrar o corpo e mente mesmo, não é possível! Agora criou essa criaturazinha dentro de mim, poxa, nem fizemos nada e me engravidou de ansiedade... Quê? Nossa Anne, essa caiu mal, hein! Eu namorando com o Beto e falando de gravidez com o Pedro? São esses pequenos pensamentos que acabam comigo! Não consigo lidar com toda essa situação... Não mesmo...
-Aiii!
Helô do nada jogou sua carteira na minha cara. Nós ainda estávamos no ônibus.
-Anne?
-Por que tu fez isso, doida??
-Agora tu tá me ouvindo, né?
-Hã??
-Nuss, a enfermeira te deu o que, hein? Você tá totalmente brisada, tô te chamando já faz tempo e você aí pensando em unicórnios...
A Helô definitivamente é uma bruxa ou eu que dou muito na cara de estar pensando no Pedro! Afinal, pensem comigo: Pedro gosta de unicórnios. Você é aquilo que você gosta. Então Pedro e unicórnios são a mesma coisa!
...
Espera, mas aí então eu e o Beto seriamos a mesma pessoa? Mas espera de novo! Eu, o Beto e o papai seriamos os mesmos? Mas então eu, o Beto, o papai, a Helô, o Theus, o Igor e o Pedro seriamos todos um? Então isso significa...
-Aquela enfermeira realmente me deu alguma coisa, já não tô pensando em nada com sentido, me dá um abraço, miga.
-Tu tá me assustando, sai daqui...
-Não vai me consolar nem um pouquinho?
-O Proerd é que vai te consolar.
-É a crise...
E era a crise mesmo. Nós rimos com a brisa do momento, sentadas no banco do ônibus esperando chegar ao nosso ponto, mas isso não mudava o fato de que continuava a crise em mim. Por um instante pensei em inventar alguma desculpa para a Helô e os Bellos para não ir ao ensaio. Era a oportunidade perfeita, ainda mais que acabara na enfermaria naquele dia, qualquer um se convenceria que eu passava mal. Porém, também queria acabar de uma vez com a curiosidade de saber qual é a do Pedro...
Aí ele vai lá e fala que só quer conversar sobre qualquer coisa! Ah vá se ferrar também!
-Chegamos!!
-Tá muito animada para alguém que só vai assistir um ensaio, hein Senhorita Heloísa?
-É tu que tá diferente hoje, Senhorita Lis.
-Tô sabendo dos seus lances...
-Lances? Hahahaha
-Aquele lance chamado Matheus, sacomé...
-Hã? Sei de nada não...
Descemos do ônibus e caminhamos até o local onde os Bellos estavam. Helô foi direto encontrar com eles no estúdio e fui para o lugar onde combinei de encontrar o Beto. Abri a porta repentinamente, pensando em dar um susto nele, mas não havia ninguém no meu campo de visão. Fiquei confusa por alguns segundos até sentir alguém me puxar para um beijo.
-Tu gosta de fazer isso, né? Um dia não vai ser eu que vou entrar e tu vai acabar beijando outra pessoa...
-Acho que não, sei muito bem quando é minha musa e quando não é.
-Ué, virou vidente?
-Os astros sempre me contam...
E nos beijamos de novo. Beto e os astros... Ele leva isso muito a sério. Não diria que ele é a típica doida dos signos, pois isso é muito humanas e ele faz uns diagramas e umas contas deveras exatas para explicar o assunto. Sua mãozinha danada queria entrar por debaixo da minha blusa, mas não deixei, afinal ele tinha de ensaiar e aquele não era lugar de “brincadeirinhas”. Porém, ela ficou então passeando por minha cintura e coxas. Nos separamos e fomos para o estúdio. Chegamos no mesmo instante que o Pedro. Meu coração bateu mais forte, como se tivesse levado um soco, ao ver o olhar que ele lançou sobre nós. Um olhar meio irritado, não sei explicar...

Coincidência é te encontrar na rua
De mãos dadas com alguém que amanhã nem vai lembrar
Rindo e bebendo como alguém que nunca
Sentiu falta de alguém pra te amar

Tinha de admitir que a voz do Pedro era maravilhosa. Ela completava a melodia que vinha atrás, ou melhor, até mesmo se destacava entre os instrumentos.

O amor é pra quem se entrega
E não quer nada melhor,
Você diz

Ele também canta com tanta profundidade. É tão verdadeiro quando está ali em frente ao microfone, como se estivesse em um confessionário. Realmente, incorporação total.

Só pra se convencer
Que a sua escolha não foi tão ruim
Que foi melhor assim
Hey, mas essa letra é tão... O que ele quer dizer com isso?
Mas quando parar pra pensar
Vai perceber que o melhor pra você era eu
Sua mente fora do lugar
Você pensou que merecia mais e me esqueceu

Ele olhou diretamente para mim, como se falasse comigo. Bem nos meus olhos e isso me espantou de início, mas desviei o olhar, percebi que estava muito focada nele... Hã? Por quê? Não tenho que focar nele coisa nenhuma! Qual meu problema? Ele nem é nada meu...

Tantas vezes eu me vi fazendo planos
Querendo algo sério e você só brincando
O tempo nunca vai voltar

Só somos amigos...

Você perdeu

Aquele último verso me irritou de verdade. Quando parei para pensar naquela letra, fiquei mais irritada ainda. Definitivamente, ele estava se dirigindo a mim! Ele vai ver só quando formos conversar depois do ensaio. Vou falar umas boas para ele...
Depois de tocarem a última música daquele dia, foram todos se organizarem, guardarem os equipamentos, instrumentos e o resto das coisas. Normalmente o Beto se oferece para me acompanhar para casa, mas como tinha de falar com o Pedro, eu disse que iria resolver uns assuntos e que podia voltar sozinha depois. Ele estranhou, mas deu de ombros e nos despedimos com um selinho. Depois que todos foram embora, fui me encontrar com o dito cujo.
Havia um hall pouco utilizado naquele local, nunca vi uma alma viva passar por ali, todo mundo sempre estava no hall principal também, então não tinha um porquê daquele espaço existir... a não ser para encontros secretos como na ocasião do momento.
Pedro estava sentado no sofá dali, olhando para o nada. Fiquei meio receosa com aquela cena, ele parecia até uma assombração. Maluquice minha? Pode até ser, mas minha vontade de saber o que ele queria era mais forte. Tentei chegar de mansinho, porém, ele virou muito rápido o rosto para mim e tomei até um susto. Sentei do seu lado e já meti um tiro.
-Que cara é essa? Tu tá parecendo até um fantasma!
-É assim que se fala “Oi, tudo bem?” na sua língua?
-É sim, agora me diz o que tu precisa falar comigo.
Ele ficou me encarando por uns instantes sem falar nada, fiquei bem incomodada com aquilo e já mandei outro tiro.
-Vai falar ou não vai? Não quero voltar pra casa de madrugada.
-...
-......
-.........
-............ Ah vá se ferrar, vou embor-
-Anne, tu ficaria comigo só por uma semana?
Aquilo me chocou, mas minha resposta foi óbvia.
-Pedro, eu namoro, esqueceu?
-Sei disso... Também esperava essa resposta de tu.
-Então por que pergunta?
-Acredito que tu não saiba bem o que se passa em seu coração...
-Ah não! Vai falar mal do Beto de novo?
-Não, não! Quero dizer... Eu também não sei o que se passa com meu coração e sabe... Se nós tentássemos ao menos...
-Não vou, Pedro! Já me decidi e é o Beto que eu quero!
-Mas eu não, Anne!
O tom de voz dele aumentou repentinamente e isso me paralisou. Ele percebeu e tratou de se desculpar, mas logo voltou a falar mais suavemente.
-Eu ainda não me decidi... Se me der uma chance, talvez, ficando com tu, eu descubra o que realmente sinto e consiga me decidir sobre o que meu coração quer. Talvez descubra se gosto ou não de tu, sabe?
Não consegui dizer uma palavra naquele momento. Ele nem sequer tinha um ferro na mão e eu já estava passada com aquilo. Ficar com o Pedro para fazê-lo entender o que ele quer? Isso é ridículo a princípio, mas... Parece ser a única solução, não é?
Hey sua doida, solução de quê?? Qual o problema aqui, afinal? Isso não deveria ser da minha conta! Se ele está confuso, se ele precisa saber o que quer, então que vá ao um psiquiatra! Eu lá sou remédio pra isso, eu hein...
...
Que péssima amiga que sou... Não sei nem ao menos trazer o Pedro de volta a vida. Não posso mentir para mim mesma... Toda vez que o vejo tão distante, logo vem um aperto no peito, me sinto uma merda, na real. No entanto, é a minha relação com o Beto que está em jogo! É complicado demais ajudar nesse aspecto, será que ele não entende? Ou eu é que não entendo? Ah não sei mais de nada! Só não dava para respondê-lo ainda, naquele momento, naquele hall assustador, não, não dava!
-Anne?
-Vou pensar a respeito...


E saí correndo dali. Nem liguei se parecia uma completa idiota fugindo de toda aquela situação. Queria voltar logo para casa e só isso. Pedro não veio atrás de mim, ele deve ter entendido o recado...

Dica Bellavilhosa: Você Perdeu - Bellamore
Capítulo 9

"50 tons de vermelho"

Segunda-feira, meio dia e cinquenta e três. Helô está com a cabeça dentro da mochila... Dormindo em cima da mesa do refeitório. “Como consegue dormir desse jeito? Essa garota não respira não?” pensei comigo enquanto garfava o último pedaço de batata assada na minha bandeja. Na maior parte da semana minhas aulas eram em período integral, então costumava almoçar no refeitório central da universidade. Nós não pagávamos pela comida por sermos estudantes de lá, então qual era o problema? Nenhum, só uma fila enorme que nos fazia esperar na média de uma hora para conseguir entrar e nos servir finalmente. Na primeira vez, eu e a Helô combinamos de nos encontrar na frente do local e então pegar a fila, mas depois de ficar de pé ali por tanto tempo, resolvemos começar a nos encontrar já na fila mesmo e dane-se quem disser que uma de nós está furando.
Outra coisa curiosa é que a Helô a cada dia parecia mais e mais exausta. Ela praticamente nem conversou direito comigo. Enfiou a cabeça na mochila e dormiu, nem aí pra mim que estava sozinha comendo batata assada, com cara de cu. Mal amada. Porém, no fundo tenho uma ideia de como é cursar Direito: leitura de livros e mais livros, e nem são aqueles romances pomposos, não. São livros bem chatões mesmo, cheios de artigos e tal seções e pá, coisas assim. Em Medicina também temos livros difíceis assim, cheios de termos técnicos e científicos para todo lado. Aposto que nunca desejamos tanto os fins de semana como agora.
O último fim de semana foi do bom, exceto pelo Pedro me procurando no meio da noite e atrapalhando o lance meu e do Beto. Aquilo não foi só estranho, foi beeem estranho. Já disse que o Pedro ocupava 1% dos meus pensamentos, certo? Então... Agora ele ocupa 70%!! Realmente conseguiu instigar a minha curiosidade. Não deu nem pra prestar atenção em nada de nada e ainda a Helô só ficou dormindo, aí mesmo não tive escolha a não ser imaginar o que o Peh quer comigo.
Comecei a me preocupar com a minha amiga, ela estava tempo demais naquela mochila!
-Hey Helô. Já tá na hora. Acorda, ô múmia!
Sem resposta.
Sacudi o corpo dela que nem um Toddynho e nada. Gelei e em um impulso, dei um beliscão no braço dela que fez a doida levantar com a mochila na cabeça e tudo. Desgelei e ri pakas daquela cena.
-Anne, Anne, onde que eu tô?
Pelo jeito ela ainda estava acordando.
-Tira essa mochila da cabeça, minina!!
-Hã? Mochila?
Abri o zíper e libertei a cabeça dela de tanto sofrimento.
-AAAAAAAAH MEUS OLHOS!
Helô gritou como se estivesse na casa dela, todo mundo em volta virou para olhar o que acontecia. Só depois que voltara sua visão e sua consciência foi quando vi seu rosto adquirir 50 tons de vermelho, uma mistura do tempo que ela passou enclausurada naquela mochila mais a vergonha que a gente passou com aquele momento aleatório. Mas no fim, nós rimos de tudo isso e voltamos cada uma para seu campus. Foi bem breve, mas, ao menos, me fez esquecer o mundo um pouco. Só a Helô para fazer esse tipo de coisa...
Foi só o professor começar a falar que minha concentração desligou. O Pedro veio mais uma vez tomar conta do meu pensamento. Cansei de ficar me corroendo e resolvi mandar logo uma mensagem perguntando.
MENSAGENS ON –
-Pedro?
-Oi Anne.
-Preciso te perguntar uma coisa.
-Uma coisa? kkk
-Sim e não entendi a graça, bobo. Pq veio me procurar sábado à noite na casa do Beto?
-Só queria conversar.
-Sobre...?
-Ah sei lá, qualquer assunto.
-Como assim?
-Oq?
-Tu bate na porta da casa do Beto como se quisesse quebrar ela apenas pra conversar sobre qualquer coisa?
-Eu não tava querendo quebrar nada.
-ATA. Tu parecia até aquele maluco do “O Iluminado” só que sem o machado.
-Quem é maluco é o seu Roberto que prende a namorada no quarto e não deixa ninguém conversar com ela!
-Q?? Realmente tu tá piradão msm!
-Pq ele é um inseguro que quer usar ela como se fosse uma boneca e quando se cansar, guardar no armário pra ninguém mais ver.
-Boneca?? Usar? Comassim???? Tu tá sempre falando essas coisas do Beto, que ele quer me usar e tals. Ele nunca faria isso comigo! Nós nos amamos e não quero mais que ninguém suspeite disso!
...
MENSAGENS OFF –
Não conseguia digitar com precisão, meus dedos tremiam sem parar. Estava nervosa, muito nervosa! Em poucos instantes, minha vista embaçou e senti como se uma neblina invadisse a sala. As vozes pareciam cada vez mais distantes e tudo a minha volta movimentava-se em slow motion. Senti minha testa esquentar e subitamente ela esfriou e... Não lembro mais.
Acordei em um ambiente claro onde havia uma mesa no fundo com uma mulher de branco sentada. Percebi que eu estava em uma cama médica e logo me toquei: fui parar na enfermaria. Sentei na cama e a moça veio na minha direção em seguida.
-Está bem... Anne Lis, certo?
-Sim. Acho que estou bem.
-Você desmaiou no meio da aula e ficou descansando por duas horas.
-Duas horas??
-Sim, duas horas. Consumiu algum alimento de má aparência antes de vir para a aula?
Sim, enfermeira, consumi algo bem estragado mesmo: Um belo tiro do Pedro via Whatsapp.
-Acho que foi a batata assada do cardápio de hoje. Ela não estava lá essas coisas...
-Hum... entendo...
Ela escreveu “Batata Assada” em um dos espaços de preenchimento daquele relatório e em outro ali pôs “Suspeita de alucinógeno”. Vaca.
Demorou uma eternidade para me liberarem daquele lugar. Finalmente, quando ponho as mãos no meu celular, me deparo com três conversas: Roberto, Helô e... Pedro. O dedo de abrir a conversa do Pedro chega a tremer, mas me segurei. Decidi responder o Beto primeiro.
MENSAGENS ON –
-Hey como tá a minha musa?
-Tu já sabe né? Linda como sempre u.u
-Nem um pouco convencida hein? Te espero naquele mesmo lugar.
-Okay, já estou indo aí!
MENSAGENS OFF –
Mais uma vez hesito em abrir a mensagem dele, mas vou na Helô.
MENSAGENS ON –
-PIRIGA, ONDE Q TU TÁ??
-Saí agora da enfermaria, tô correndo aí pro ponto.
-Vixi o ônibus já tá chegando...
-Helô, se tu me abandonar...
-Entrei.
-TU NÃO FEZ ISSO! PULA A JANELA AGORA MSM!
-Não fiz msm, tava zoando kkkkk
-Ai não faz isso com meu heart!
MENSAGENS OFF –
Respirei profundamente. Estava na hora. Mds até parece que ler uma mensagem de um doido desses merece esse tipo de cerimônia toda, sou muito romantizada! Abri de uma vez e enfim... Tudo o que vi foi um “Depois do ensaio precisamos conversar”.
CAPÍTULO 8

"Aquele 1% é do Pedro"

Minha vida parecia quase como um conto de fadas desde o dia em que eu e o Beto oficializamos nossa relação. Todo dia acordava sorrindo e bem disposta, tomava o café da manhã de Margarida com muita satisfação como se fosse o último, encontrava com a Helô no ponto de ônibus para irmos à faculdade juntas, estudava e estudava (Afinal, vida acadêmica não é moleza não :v), e no fim do dia, íamos ao estúdio onde os Bellos estavam para vê-los ensaiar. Quase sempre, depois dos ensaios, o Beto me puxava para a casa dele, onde rolavam vários amassos, beijos e até... quase aquilo lá, mas sempre acabava não cedendo por completo haushsuahua.
Porém, como disse inicialmente: minha vida parecia QUASE um conto de fadas... Se não fosse o Pedro. Na maior parte do dia, uns 80% dele acredito, pensava no Beto e isso me dava a certeza que o amava, uns 19% eram ocupados pelas demais coisas do dia-a-dia, no entanto, aquele 1%... Era o Pedro. Não entendia bem, mas sentia um aperto no peito toda vez que olhava para ele nos ensaios. Distante... Era tudo o que seu rosto transparecia. Ele era o último a chegar nos ensaios e o primeiro a ir embora. Entre os intervalos, já tentei puxar uns assuntos com ele, sacomé aqueles papos furados de sempre, só pra começar a conversa mesmo, mas quem disse que ele correspondeu? Soava até como se eu falasse com um simulador de conversa, porque todas as respostas dele eram secas e previsíveis. Ele parecia ainda normal com os Bellos e a Helô, mas comigo era diferente: ele era curto e frio. Tudo parecia mil maravilhas e cada vez mais eu e o Beto nos fortalecíamos, entretanto, ainda assim havia um vulto em meio a todo esse sonho. Como se uma peça estivesse fora do lugar. Queria ter o poder de ignorar esse vulto e focar meus olhos nos bons acontecimentos, mas simplesmente não dá! Não dá pra ignorar essa peça quando ela é seu próprio amigo!
No fim de semana, estive na casa do Theus. Estávamos eu, a Helô, o Igor e o próprio Theus lá jogando UNO.
-Desculpa aí, Helô, mas não tive outra escolha... Compra quatro!
-Ora Thomate cru!! Vai ter volta!
-Meça suas vingança, Helefanta!
Eu e o Igor demos risada dos dois e eles continuaram trocando farpas entre si. A campainha tocou e fui ver quem era.
-É entrega de pizza.
Sabia muito bem de quem era aquela voz. “Pizza? Inventa uma melhor, Beto!” pensei comigo. Abri a porta e fui surpreendida com um beijo. Não resisti àquela boquinha e me entreguei. Ficamos ali na porta na maior pegação até que o ar se fez necessário.
-Doido! Imagina se não sou eu quem te atenderia!
-Se não me engano o Matheus e a Helô estão muito concentrados no jogo para atender uma porta, então quem mais...
-E o Igor hein?
-Ah o Igor é o Igor!
E demos um selinho rápido, voltando em seguida para a sala.
-Lá vem o casal do ano de novo! Aqui é uma casa de família, então se comportem! (Matheus falou em tom de sarro)
-Acho que o casal que tem que se comportar aqui é tu e a Helô, porque os dois juntos é só bagunça! (Beto zuou também e todo mundo riu, embora o Theus e a Helô parecessem pimentões de tão vermelhos)
Essa questão também me dividia de certa maneira, porque gostava de ver que a Helô e o Theus estavam cada vez mais próximos, digo, amorosamente falando. Já peguei os dois trocando alguns carinhos e tals, nada muito sério, mas era fofo de ver. Porém, a Helô estar gostando mais do Matheus, faz o Pedro ficar cada vez mais apagado da nossa visão em geral. Era como se todos nós estivéssemos esquecendo ele de alguma forma, tanto que foi o Igor naquele momento de descontração que nos lembrou disto.
-Só faltava o Peh aqui... (Igor disse em meio a um riso, mas também em um tom melancólico)
Todos nós ficamos na mesma. Meio tristes, meio felizes. Embora ainda conversasse normalmente com o pessoal (exceto eu, a diferentona da história), todo mundo ali havia notado que ele andava sumido. O Theus o convidara para jogar UNO e curtir um pouco com a gente o fim de semana, porém, ele simplesmente recusou dizendo que havia assuntos a tratar. Mesmo com esse momento de tristeza e reflexão a noite seguiu tranquila (ou não).
Quando fomos embora, fui para a casa do Beto e fiquei com ele na cama. Ele parecia querer me engolir de tanto que me beijava e também chupava meu pescoço. Começou a apertar minhas coxas e depois desabotoar minha calça. Não queria perder para ele e então puxei sua camisa até tirá-la, passando minhas mãos em seguida por seu peito e barriga. Ele sorriu maliciosamente para mim, se sentindo desafiado, retirou minha calça bruscamente e a jogou no chão do quarto.
Chegou enfim o dia em que nossos corpos se colidiriam como em épocas passadas? Seria um reencontro sexual? Poderia até ser... Se não tivesse alguém batendo na porta como se quisesse a quebrar. Beto ficou um pouco irritado com aquilo e tratou de botar a camisa de volta e ver quem era o indivíduo. Fiquei na cama com o lençol cobrindo minhas pernas. Ouvi a porta ser aberta e a voz que ecoou dela me arrepiou até a ponta dos fios do cabelo.
-Oi Roberto.
-Oi Pedro, o que o traz aqui?
-A Anne está aí não é?
-Sim, mas agora estamos ocupados, depois vocês se veem no ensaio, sei lá...
-Então posso apenas vê-la?
Isso me assustou. Apenas me ver? Por que ele queria apenas me ver? Pra quê? Conseguia perceber um pouco de ansiedade na voz dele, estava nervoso pelo jeito...
-Não, quero dizer, agora não, sabe? É bem tarde e você chega aqui do nada sem nem avisar, cara.
-Ah é... Desculpa...
Beto estava irritado já, não sabia o que fazer naquela situação.
-E aí? Vai ficar aí parado na porta mesmo? Porque infelizmente vou ter que fechar.
Pedro soou como se acordasse de um transe e enfim se despediu de cabeça baixa. Logo ouvi a porta se fechar e os passos do Beto se aproximarem até a cama. Ele pegou nas minhas coxas, mordendo o lábio superior em uma expressão sensual, porém, sinceramente... Eu não estava nem um pouco afim depois daquela situação toda! Ele percebeu rapidamente e sua expressão fechou também. Ficamos alguns segundos sem falar absolutamente nada, até que ele se voltou para mim com um leve sorriso.
-Vem cá, Anne, vamos dormir...
E me puxou junto dele na cama. Deitei minha cabeça em seu peitoral e fechei meus olhos. Não dormi de imediato. Fiquei pensando no acontecido. O que será que o Pedro queria falar comigo? Por que ele sairia de onde ele estava para vir até a casa do Beto com o intuito de somente falar comigo? Isso é loucura! Será que ele anda usando alguma espécie nova de narcótico, alucinógeno, erva, sei lá o quê? Mdss Anne sua loka! Não vai achar que o Pedro tá começando a usar droga por causa do seu namoro com o Beto! Longe disso! Não pode ser isso. Conheço ele muito bem, nós fomos amigos!
...
Pera... “fomos”? Nós SOMOS amigos, não é? Pelo menos é o que acho, nem sei se o Pedro ainda me dá tal consideração, talvez não... AAAAAAAAAAH Eu vou é dormir, isso sim!
Dica Bellavilhosa: Bellamore- Teu Talento
Capítulo VII
“Só quero você”


Meu sono é tão profundo que eu só acordei no meio da viagem de volta. O dia ainda estava amanhecendo e todos estavam dormindo. Igor estava dormindo outra vez no banco do carona. Helô e eu dormimos na porta malas. Pedro e Beto dormiam virados para uma janela, e o Theus conseguiu cair no fundo do carro e continuar dormindo.
-Acordando cedo novamente? Minha guria!
-Pensei que nos buscaria mais tarde.
-Achei melhor ir buscar quando era meia noite. Liguei para a Helena e ela disse que outros primos da Helô dormiriam lá, então busquei na mesma hora.
-Papai, tu nem dormiu ontem...
-Dormi sim, logo que o enterro acabou eu fui para o hotel e dormi muito bem. Não se preocupe filha.
-Já chegamos em Volta Redonda?
-Sim, e já estamos chegando em casa. Margarida me ligou ontem à noite querendo saber o que houve, e perguntou se poderia voltar ao trabalho. Eu disse a ela que aproveitasse mais essa folga, mas ela disse que duas jovens lindas dão muito trabalho. Eu sei que ela não aguenta ficar longe de ti.
-Já estava mesmo com saudades da Margaridinha linda. Devo acordá-los?
-Sim, já estamos em casa!
Acordei os preguiçosos e saímos do carro. Margarida nos esperava na porta de casa com um sorriso tão lindo que invejaria qualquer um. Logo que saí do carro ela correu em minha direção.
-Minha menina!(Margarida me deu um abraço tão forte, acho que ela está fazendo academia) Que saudade de vocês.
Margarida cumprimentou todo mundo e nos mandou pra cozinha na mesma hora. Papai ia tomar um banho e voltar para o hospital, mas nem ele ousa desobedecer à dona Margarida. Após o café da manhã papai tomou banho e voltou para o hospital, os guris foram embora e Helô e eu tomamos banho (cada uma em um banheiro porque só gosto de dividir o box com o Beto) e fomos para a sala fofocar.
-Anne, preciso lhe contar.
-Então conta logo!
-Eu sou a mais nova caloura de direito!
-AI QUE TUDO MINHA LINDAAAA!
-Calma que eu não contei tudo!
-Andaaaaaaa... eu preciso pular de alegria!
-VAMOS ESTUDAR NA MESMA FACULDADE!
-VAMOS PRA FACULDADE JUNTAS! AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!!!
Margarida chegou à sala, nos viu pulando e gritando e começou a pular e gritar também. Após tanto tempo comemorando, nos sentamos no sofá tentando respirar novamente.
-O que estamos comemorando?(perguntou Margarida enquanto descansava)
-Helô e eu vamos estudar na mesma faculdade!
-Porém, Anne vai estudar medicina e eu vou estudar direito.
-Fico orgulhosa das minhas meninas estarem subindo na vida. Estudem mesmo, ou eu coloco as duas de castigo e sem sobremesa.
Margarida nos deu um beijo na testa e voltou para a cozinha.
-Anne, tem outra coisa que quero lhe contar.
-Helô, quando quiser me contar algum babado, não precisa avisar que vai contar. Apenas... conte!
-Eu gosto de fazer mistério.
-Então conta logo.
-Ontem o Theus ficou abraçado comigo no enterro, e depois ele... quase me beijou!
-Aaaaaaaaaaaaaaaaawwwwwwwwwwwn.... miga, ele tá tão na tua.
-Eu gosto muito dele, muito mesmo. Mas...
-Maaaaaaaaaaas...
-O Pedro ainda me encanta.
Ouvir a Helô dizendo isso me fez pensar em quando fiquei com o Pedro. Novamente veio o peso na consciência, e dessa vez... também veio a saudade daquelas horas que passamos juntos. Saia desta mente que não lhe pertence!
-Miga, já pensou em dar alguma chance pro Matheus?
-Sim, mas ele é tão tímido... não sei se gosta de mim.
-Tu não acabou de falar que ele quase te beijou?
-Sim, mas é porque ele queria falar algo bem baixinho e o Beto o empurrou quando começou a cair de sono no sofá.
-Será mesmo?
-Sim, esse é o único motivo.
Margarida nos chamou para o almoço. Depois de almoçar e ajudar com as louças (mesmo a Margarida dizendo que não era pra ajudar) Helô e eu fomos pra sala assistir algumas séries. Duas horas a Helô saiu dizendo que iria resolver alguns assuntos na faculdade. Estava dormindo no sofá quando Margaria avisou que tinha visita.
-Quem é?
-Aquele menino que dança de um jeito engraçado.
-O Theus?
-Ele mesmo.
-Pode deixar que eu o atendo.
-Sossega o popozão aí no sofá, eu atendo.
Margarida foi abrir a porta e na mesma hora o Theus já veio com um sorrisinho de “não sou Helô, mas preciso lhe contar...”.
-Fala que eu te escuto.
-Quase beijei a Helô ontem.
-Isso eu já sei, quero novidades.
-Como assim já sabe?
-Helô me contou.
-MEU DEUS!...O que ela disse?
-Que gosta muito de ti.
-Sério?
-Sim... Theus, agora fale a verdade...tu gosta da Helô, né?
-Eu não sei. Eu gosto de falar com ela, gosto das nossas brincadeiras, gosto de estar perto dela. Eu não sei se gosto dela como amiga, ou mais do que isso.
-Hum...
-Hum o que?
-É O AMOOOOOOOOOOOOOOOOOOOR! QUE MECHE COM A TUA CABEÇA E TE DEIXA ASSIIIIIIIIIIIM. TE FAZ PENSAR NA HELÔ E ESQUECER DE TIIIIIIIII...
-PALHAÇA! NÃO TE CONTO MAIS NADA.
Theus ficou bravo por um tempo, mas depois começou a rir junto comigo.
-Você é muito palhaça, muito, muito, muito, muito, muito, palhaça.
-Aprendi contigo monamour.
-E aquele love com o Beto?
-Não sei que love.
-Foram abraçadinhos pra sampa, ficaram de mãos dadas o velório todo, foram abraçadinhos pro enterro... sei não hein.
-Besta.
-Anne, se ama o Beto, então admite logo e para com esse cu doce de só pensar e não dar resposta.
-Vai pra puta que pariu.
-Anne, eu estou falando como seu amigo. O Beto não tem a vida inteira pra ficar te esperando dar uma resposta. Ou entra ou sai da jogada. Ele te ama, mas quando o amor não é alimentado ele esfria. Vai chegar uma hora em que ele vai se cansar de tanto de esperar e aí será tarde, muito tarde. Ele planeja uma vida feliz, um casamento feliz e ter uma família feliz. Resta saber se você quer fazer parte desse plano.
-Quem vê essa tua cara de retardado nem imagina o filósofo que habita nessa cabeça de vento.
-Vai pra puta que pariu.
-Se tu pagar a passagem eu vou mesmo.
Theus e eu passamos a tarde toda conversando, até a hora em que ele saiu para ensaio. Helô disse que demoraria chegar, pois ainda estava na fila pra resolver os assuntos da faculdade. Papai ligou do hospital dizendo que chegaria muito tarde, pois tinha duas cirurgias pra fazer. Chamei Margarida pra assistir filme junto comigo. E mesmo ainda sendo seis e alguma coisa, peguei no sono.
Enquanto isso...
Em outra parte de Volta Redonda, Beto, Igor, Matheus e Pedro ensaiavam. Guto assistia ao ensaio a convite do Igor. Após o ensaio acabar, cada um começou a juntar suas coisas e ir embora. No estúdio ficaram apenas Pedro e Guto.
-Meus parabéns, vocês se superam cada vez mais.
-Digo o mesmo de vocês.
-Pedro, só... me responde uma coisinha.
-Diga.
-É impressão minha...ou você cantou “seu” como se estivesse se declarando a alguém?
Pedro parou um tempo, respirou bem fundo e então pensou em Anne. Lembrou do domingo que passaram juntos, e de como estavam felizes aquele dia.
-Se... se eu te contar algo...jura que não conta pra ninguém?
-Sim, eu juro.
-Cada vez que canto essa música, tem alguém que surge na minha mente. Eu cantei essa música pra ela, e cada vez que canto “seu”, começo a desejar que ela esteja ouvindo para entender os meus sentimentos por ela.
-E quem é a tal “ela”?
Beto havia esquecido os fones de ouvido perto do sofá, havia voltado para buscar, e então começou a ouvir a conversa.
-Ela é uma amiga do Colegial. Ela é linda, encantadora, tem um corpo lindo, leva qualquer um à loucura... enfim. Eu... eu amo essa mulher, mas não sei se ela corresponde meus sentimentos.
Beto deu um sorriso pensando que Pedro falava da Helô. Começou a imaginar esses dois namorando. Beto sempre quis que eles namorassem, mas isso nunca aconteceu.

-Já ficaram?
-Ficamos no domingo passado. Eu a havia convidado para almoçar comigo, e depois do almoço, eu cantei pra ela e aí começamos a nos beijar, o clima esquentou e o Beto apareceu querendo saber do ensaio.
-Você deve ter ficado puto da vida com isso.
-Você não faz ideia do quanto... mas depois disso, passamos a tarde juntos. Ficamos abraçados naquele sofá, sabe, apenas abraçados deixando que nossos corpos conversassem. Depois comecei a me levar pelo perfume dela, declarei meu amor por ela, coisa que nunca fiz com outra mulher.
-Por que não estão juntos?
-Ela escolheu o Beto.
Beto sentiu o mundo cair. Não era a Helô, e sim Anne, que havia ficado com o Pedro. Ele interrompeu um momento entre eles naquele domingo. Beto não sabia o que fazer, aquilo o pegara de surpresa.
-Não acredito, Anne não decide se quer ficar comigo por causa do Pedro. Ela me iludiu.
Beto deixou que as lágrimas rolassem por seu rosto, e em um impulso, correu para a casa da mulher que o amava, e que o iludira.
De volta a casa da Anne...
Acordei e olhei em todos os lados. Encontrei um bilhete da Margarida na mesinha da sala. ~~Minha menina, você estava dormindo tão serenamente que não quis te acordar. Deixei uma linda e saborosa lasanha a bolonhesa. Até amanhã lindinha.~~
-Margarida sabe como alegrar alguém!
Comi um pouco de lasanha e deixei pra Helô. Escovei os meus dentes e voltei para a sala. Ouvi alguém bater na porta e fui atender.
-Já vai, já vai, aperta bem as perninhas que dá pra segurar.
Quando abri a porta Beto entrou em disparada. Fechei a porta e fui até o Beto dar um abraço nesse lindo.
-POR QUE NÃO ME CONTOU QUE FICOU COM O PEDRO?
Como ele soube? Será que o Pedro contou?
-Como soube?
-ISSO NÃO IMPORTA E...
-ABAIXA ESSE TOM DE VOZ PRA FALAR COMIGO!
Beto respirou fundo e relaxou um pouco.
-Eu terminei com a minha namorada pra viver esse amor que sinto por você. Eu acreditei que nosso amor era puro e sem mentiras...
-Eu não menti pra ti!
-Esconder é o mesmo que mentir. Por que não me contou que ficou com o Pedro?
-Que diferença isso faz? Tu ainda namorava a Vitória, o que aconteceu, aconteceu.
-Eu passava o tempo todo pensando em você, e você passava esse tempo ficando com o Pedro?
-Não queria dizer isso, maas...o jogo virou não é mesmo?
-Você vai pra cama com ele e age como se fosse a coisa mais natural do mundo?
-Eu não transei com o Pedro.
-Será mesmo? Ou essa é mais uma das suas mentiras?
-Meu amor por ti não é uma mentira.
-Que amor?
Eu acabo de dizer que o amor, e é assim que ele me responde?
-Beto, eu não minto quando digo que te amo.
-Hum, é mesmo? Não caio mais nessa.
Helô havia chegado, mas não foi até a sala, continuou no corredor de entrada.
-Por que não acredita no meu amor por ti?
-Por que alguém que mente uma vez, mentirá sempre.
Eu não consegui mais reagir, comecei a chorar. Helô entrou na sala e foi até o Beto. Me viu chorando e inesperadamente... deu um soco no rostinho de porcelana dele.
-VOCÊ FEZ A MINHA AMIGA CHORAR! OU SOME DAQUI OU EU TE ENFORCO COM AS SUAS TRIPAS.
Beto saiu na mesma hora. Helô veio até mim e me abraçou.
-Não fica assim não amiga, ele não te merece. Esse babaca, palhaço, otário, idiota.
-O pior é que eu amo esse babaca.
-Liga não amiga. Vem, vamos comer brigadeiro sem culpa.
Helô passou a noite inteira tentando me ajudar a relaxar, e depois até eu me cansei e fui dormir. Helô disse que teria que voltar na faculdade outra vez já que desistiu de tanto esperar que algo fosse resolvido hoje. Acordei e Helô já estava terminando o café da manhã.
-Puta, nem pra me acordar.
-Depois eu te xingo, agora eu tô atrasada. Me deseje sorte, pretendo resolver ainda hoje.
-Vai na fé e seja o que Deus quiser.
Helô saiu e Margarida apareceu.
-Bom dia minha linda, coma tudo se não quiser ficar sem bombom de travessa.
-BOMBOM DE TRAVESSA?
-Siiiiiiiiiim...
-Eu adooooooooooooooooooro bombom de travessa!
-Então tome o café da manhã. (Margarida olhou para mim e começou a olhar de um jeito estranho)Seus olhos estão inchados. Meu Deus, Anne, o que aconteceu?
-Nada.
-Anne Lis, não me faça falar!
-Tive uma discussão com o Beto ontem.
-Oh minha menina, não se preocupe. É normal que duas pessoas que se amem, briguem. Isso mostra que elas se importam com o outro.
-Será?
-Eu sei o que estou falando.
Tomei meu café da manhã e resolvi conversar com o Math.
-MENSAGENS ON-
-Beto e eu brigamos...
-MASOQUE?
-Brigamos mesmo.
-O que houve?
-Ele chegou perguntando porque eu fiquei com o Pedro. Disse algumas merdas, eu disse outras e no fim, a Helô deu um soco nele.
-A HELÔ FEZ O QUE?
-Deu um soco nele.
-Tá aí algo que eu gostaria de ver. Mas olha, se o Beto foi saber sobre isso, é sinal que ele teve medo de te perder para o Pedro.
-Se ele continuar assim vai conseguir.
-Vai nada. Seu amor pelo Beto é enorme. Logo, logo estarão de beijos e amassos novamente.
-Aham, senta lá.
-Chamei a Helô pra almoçar...
-NÃO CREIO
-POIS CREIA
-Então é bom arrasar, a Helô é exigente no quesito comida.
-Vou sim, e relaxa, o Beto ainda vai pedir desculpas.
-Te pago um senhor lanche se isso acontecer.
-MENSAGENS OFF-
Já faz tanto tempo que não converso com o Pedro. Assim é melhor, preciso me afastar dele. Depois de um tempo Margarida chamou para o almoço. Após comer feito pedreiro, resolvi tirar minha sonequinha da tarde.
Enquanto isso...
-Thomate, não sabia que cozinhava tão bem assim.
-Pois é Helefanta, tem muita coisa sobre mim que você não sabe.
-Tipo...
-Brinca de detetive e tenta descobrir 😉
-Palhaço.
Helô e Matheus se jogaram em um sofá.
-Não acredito que vou dizer isso, mas acho sua voz linda!
-Um elogio vindo de você? Hoje chove!
-Bobo!
-Sabe... queria falar sobre...você sabe.
-O quase beijo?
-Sim... desculpa. Não foi por querer.
-Não queria me beijar?
-Sim... quero dizer...ah...
Matheus começou a ficar nervoso, até que a campainha tocou. “Salvo pelo bongo”, pensou ele. Matheus abriu a porta e Beto entrou em disparada.
-Vou começar a cobrar por cada terapia.
-Que cobre, não me importo.
Matheus chegou à sala e viu Beto ficar pálido enquanto olhava pra Helô. Se lembrou do que Anne disse e segurou o riso.
-Senta aí Beto, eu não vou te bater. Me desculpe por ontem, mas vamos concordar que você não me deu muita opção.
-Helô, Matheus...preciso da ajuda de vocês.
-Conte mais.(disse enquanto se sentava ao lado de Helô)
-Eu discuti com a Anne ontem. Eu estou muito arrependido, e necessito me desculpar com ela. Agi com muita burrice, e quero reparar esse erro. Eu amo a Anne, e quero que ela tenha certeza disso.
-E como podemos ajudar?(Helô perguntou realmente interessada em ajudar, ela iria ajudar sua amiga a ser feliz)
-Eu não sei, mas quero que me ajudem... isso precisa ser especial.
-Huuuuuuum...acho que tenho uma ideia.(Matheus se levantara já com um sorriso no rosto)Vou pegar algumas folhas, uma caneta...vou ligar pro Mike, ele me deve um favor...
-Mas o que vamos fazer?(Helô e Beto perguntaram juntos)
-O que vamos fazer é o seguinte...
De volta a casa da Anne...
-Anne? Anne? Acorda piriga!
Não sabia que horas eram, mas acordei de qualquer jeito.
-Que ééeé?
-Vamos ao shopping!
-Não quero comprar nada.
-Mas eu sim, e quero sua ajuda. Vamos!
-Não vou!
-Ou vem comigo, ou eu te arrasto.
-Eu odeio o fato de não conseguir te odiar.
-Também te amo, agora vamos.
Fui escovar os meus dentes, pois estava com um bafo que nem eu aguentava. Margarida disse que não poderia ir, pois precisava fazer compras. Helô parecia querer voar, estava quase colocando uma camisa de força nela quando chegamos ao shopping. Quando entramos vi uma multidão parada em um canto. Tinha um telão ao lado, mas não tinha nada passando nele.
-O que está acontecendo aqui?
-OutroEu está fazendo um show especial...
-Sério?
-TÃO SÉRIO QUANTO UM INFARTO!
Helô endoidou de novo, puta que pariu. Logo que todos ouviram isso, se viraram direto pra mim. Mike e os outros guris se olharam e então começaram a tocar “Thinking out loud” do lindo Ed Sheeran. Helô pegou uma cadeira e me disse para me sentar. Logo em seguida uma guria me entregou um coração de pelúcia. Espera aí, o Beto já me deu um coração de pelúcia. As pessoas que antes estavam assistindo ao show, agora estavam dançando. Algumas saíam com cartazes. Que coisa mais linda! Balões de coração subiam, confetes pra todo lado, e então as pessoas com os cartazes formaram a frase.
-A medida do amor, é amar sem medidas. Meu amor por você não tem limite, não tem quantidade e não tem fronteiras. Pra sempre será meu eterno amor.
Não sei bem quando comecei a chorar, mas não quis segurar de modo nenhum. Abracei meu coração de pelúcia e toquei em um pedaço de papel. Tirei o papel que estava colado.
-Agora olhe o telão.
Olhei para o telão e vi fotos que antigas que tirei com o Beto. Não me lembrava de metade, mas deu uma saudade. Após tantas fotos, começou um vídeo do Beto. Ele estava indo a algum lugar, mas não sei onde ele estava.
-Foi muita mancada da minha parte não ter confiado em você. Tive medo de você estar amando outra pessoa, mas eu me arrependi. Nós vivemos uma história de amor muito bonita, e não quero jogar ela fora. A verdade é que eu te amo muito, Anne. Não imagino minha vida sem você. Eu planejo ser feliz, mas só quero isso se for com você. Eu quero muito saber qual é a sua reação após essa surpresa...
O vídeo começou a mostrar todo o ambiente em que eu estava. Quando eu me vi naquele vídeo, finalmente entendi. Beto entregou o celular para o Theus e pegou um buquê de flores que estava com a Helô. Ele veio até mim e segurou a minha mão. Me levantei na mesma hora.
-... e é por isso que estou aqui. Anne, desde a primeira que eu te vi, que eu sabia que precisava de você pra ser feliz. Vamos esquecer qualquer coisa ruim que já tenha acontecido, e vamos recomeçar. Seja paciente comigo, pois também serei paciente com você. Eu quero ser seu namorado, noivo, marido. Quero construir minha vida com você e envelhecer ao seu lado. Vamos dar outra chance para o amor.
Meu Deus! Eu não sei como reagir. Beto arrasou comigo (no ótimo sentido). Quando eu pensei que já havia acabado, ele se ajoelhou e tirou uma linda aliança de prata.
-Anne Lis... quer namorar comigo?
Tudo congelou pra mim. Não esperava por isso. Mas... eu sei qual é a resposta.
-Sim, eu quero namorar contigo!
Os guris do OutroEu ainda estavam tocando quando Beto e eu trocamos as alianças e nos beijamos. Todos do shopping pararam para nos aplaudir. Beto também estava emocionado e não parava de sorrir. Após essa surpresa maravilhosa, Beto levou Helô eu até a minha casa e prometeu vir conversar com o meu pai no dia seguinte. Dormi me sentindo radiante, não via a hora de acordar e descobrir que tudo não foi só um sonho. Esquecerei o Pero, e darei essa chance para o amor.

Dica Bellavilhosa (dessa vez em dose dupla):
Ed Sheeran - Thinking out loud
OutroEu - O que dizer de você.